O poder da escrita

2011/03/10 7:57 da tarde by Vera Lopes
Um instrumento poderoso: a escrita


Recomendo vivamente a leitura deste excerto de uma entrevista a Sérgio Niza, publicada em 2006, em: Educação - Temas e Problemas - n.º 1 Ano 1 2006
Que Rumos para a Educação?



"A Escola para mim é um instrumento poderosíssimo para regular e construir a pluralidade cultural e fazer caminho para a unidade da ciência. E se se perde essa dimensão, perde-se tudo. Sempre entendi um professor como um intelectual, como um trabalhador intelectual. Os trabalhadores têm instrumentos, têm utensílios de trabalho privilegiados, que também são instrumentos caracterizadores e construtores da própria profissão.
Inquieta-me muito que os professores não tenham consciência de que os seus instrumentos profissionais são os instrumentos de trabalho intelectual. E que um dos seus instrumentos mais poderosos, também um dos artefactos mais poderosos da invenção humana, é a escrita.
Os professores têm medo da escrita, não estão à vontade na escrita, têm medo de perceber que ela é decisiva para a construção das aprendizagens dos alunos, parecem ignorar que o falar e o escrever é que constroem o conhecimento. É através da acção de construção de textos pela fala e pela escrita, que se constrói também o conhecimento. Esta falta de consciência leva a que só o professor é que fala. Mas se o aluno não pode falar o conhecimento, está impedido de utilizar uma estratégia fortíssima para a construção do conhecimento. Se o aluno não escreve o conhecimento, se só responde a perguntas, como é que constrói a escrita do conhecimento?
E dos próprios professores nem falo, porque esses não têm hábitos de escrever sobre o conhecimento, logo, como podem progredir no conhecimento!?... São coisas muito sérias dos tempos que correm.
Daí vem a necessidade de construir uma nova cultura da profissão. Temos de desenvolver a nossa cultura profissional, a nossa cultura de pedagogos, porque os professores que deixam de ser pedagogos podem transformar-se em funcionários. Os professores têm de aspirar sempre, não só a ser práticos, mas a pensar e a construir discursos sobre as suas próprias práticas: isso é ser pedagogo! Ser pedagogo é ter uma prática social da educação e ter um discurso e uma escrita sobre a educação e sobre a profissão. Essa possibilidade de pensar, projectar, dialogar a profissão é que funda a profissão.
Ora os professores portugueses, na sua maior parte, não se conseguiram descolar dos padrões de imitação, de repetição, da lição à maneira clássica."



Fonte:
SÉRGIO NIZA: A CONSTRUÇÃO DE UMA DEMOCRACIA NA ACÇÃO EDUCATIVA


http://www.ciep.uevora.pt/revista/revista1/entrevista_sergio_niza.pdf
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